sábado, 26 de abril de 2014

SURDEZ: INDIVÍDUO SURDO OU DEFICIENTE AUDITIVO?


Noah de Paula Chiavenato

Criou-se com o passar do tempo uma cristalização em torno do indivíduo/pessoa surda, como sendo aquele que não escuta e percebe e interage com o mundo através da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), porém o ser Surdo é muito mais que essa simples definição, sendo assim, queremos mostrar, através deste trabalho, as implicações sobre o que é ser surdo aceitando-se como tal e o surdo que não admite a surdez, identificando-a como um problema. Estabeleceremos assim, a diferença entre os dois pensamentos identificados nos indivíduos que fazem parte da Cultura Surda.
De acordo com o Decreto Nº 5.626 de Janeiro de 2005 e aprovado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu artigo 2º e Parágrafo Único considera a pessoa surda como

Aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz (BRASIL, 2005).


A Constituição Federal identifica a pessoa surda como pertencente a uma Cultura Visual que utiliza para interagir com o meio a LS (Língua de Sinais). Podemos afirmar então, que o ser Surdo enquadrado neste conceito é aquele que admite-se enquanto surdo e aceita a sua Cultura.
Para Dorziat (2009, p.15) surge uma dúvida: “Afinal, de que Surdos se fala, ao tratar sobre a necessidade de considerar sua identidade?”, pois segundo a autora o ser Surdo está estritamente voltado a negar sua realidade ou aceita-se como um novo homem e está disposto a dar acesso ao reconhecimento da diferença.
Soares e Lacerda (2007) implicam em afirmar que o indivíduo surdo que faz parte de um grupo familiar composto por ouvintes tem maior propensão em não aceitar-se como uma pessoa diferente, porém com uma deficiência, que através da medicina poderá “curar-se”, mesmo utilizando de técnicas mais radicais, como o implante Coclear. Já os surdos que desde seu nascimento ou descoberta da surdez, é inserido em um ambiente que lhe propicie segurança, estabilidade e socialização com outras pessoas também surdas que aceitam-se e defendem sua cultura, muito provavelmente a criança irá crescer e desenvolver-se já dentro desta Cultura, utilizando meios e formas de se comunicar própria do surdo, como a LS.
Estamos falando do surdo dentro de uma visão sócio-antropológica: do surdo enquanto ser social, que atua e defende o direito de pertencer à cultura surda” (CHIAVENATO, 2010).
De acordo com a pesquisa realizada por Dorziat (2009), existem várias situações dentro da cultura surda, onde alguns surdos comparam-se ao ouvinte, outros surdos (que definem-se como deficientes) comparam-se com outros surdos (estes que se aceitam e fazem parte de uma cultura gesto-visual) e outros surdos (oralizados) que comparam-se com outros surdos (utilizadores da LS). Há então um preconceito muito grande entre os próprios surdos: aqueles que aprenderam a ler lábios e oralizar e os surdos que fazem utilização da LS para sua comunicação.
Os primeiros encontram-se em uma abordagem clínica, onde veem-se como deficientes auditivos, portanto há  a tão sonhada visão do ouvinte como a pessoa perfeita e onde ele gostaria de estar encaixado, pensando então, da mesma forma: que o ouvir é a porta para o mundo e o segundo em uma visão sócio-antropológica, aceitando-se enquanto pessoa surda e que defende a sua cultura utilizando-se da LS e perpassando este conhecimento a outros surdos.
Há então uma disputa entre quem a sociedade espera encontrar: o surdo oralizado ou o surdo que faz o uso dos sinais? Há então um embate entre eles, ambos querendo provar que são mais bem aceitos.
Percebe-se então a diferença entre o deficiente auditivo e o indivíduo surdo. Já que o primeiro não aceita-se como surdo, mas como alguém que precisa de um tratamento para se encaixar nos padrões da “normalidade” e o outro, o Surdo, indivíduo que compreende a sua diferença e procura, dentro dos padrões da mesma encaixar-se na sociedade defendendo seus ideais.


REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto-Lei n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 24 abr. 2014.

CHIAVENATO, N. Processos de inclusão de alunos surdos na escola regular: um estudo de caso em uma escola pública de Belém. 2010. 103 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia) – Faculdade de Pedagogia, Faculdade Ideal, Belém, 2010.

DORZIAT, A. O outro da educação: Pensando a surdez com base nos temas Identidade/Diferença, Currículo e Inclusão. Petrópolis: Vozes, 2009. 94 p.

SOARES, F.M.R; LACERDA, C.B.F de. O aluno surdo em escola regular: um estudo de caso sobre a construção da identidade. In: GÓES, M.C.R. de; LAPLANE, A.L.F. de. Políticas e práticas de Educação Inclusiva. 2. ed. Campinas,SP: Autores Associados, 2007. p. 121-147.

Inclusão: Uma verdade ou um mito?

Sabe-se que hoje a inclusão é obrigatória em todas as escolas, tanto na rede particular, quanto na privada, porém, como acontece sempre no Brasil as legislações vigentes ficam apenas no papel.
As escolas, principalmente as redes públicas não oferecem suporte nenhum ao aluno deficiente. E digo isso falando de todas as especificidades, de todos os distúrbios de aprendizagem e de toda a dificuldade motora do indivíduo deficiente.
Como obrigar uma escola a incluir o aluno, se nem sequer há verbas suficientes para adaptar todas as escolas a essa nova realidade. Sim, concordo com a inclusão, porém uma inclusão de fato, e não apenas como uma utopia que é o que temos para hoje.
Vejo cada vez mais alunos ingressando em escolas e sendo deixados à margem de um verdadeiro ensino de qualidade, pois são excluídos, deixados de lado. As escolas são o que chamamos de escolas homogêneas, turmas homogêneas, onde todos são vistos como iguais e o professor assim os trata: como iguais, mas esquece que há uma limitação, que passa despercebida e é aí que acontece o abandono do aluno deficiente, pois este recebe o mesmo currículo que todos os outros alunos, sem nenhuma adaptação.
O professor, despreparado não sabe o que fazer com o aluno, a escola não sabe o que fazer com o aluno. Como trabalhar como ele em sala de aula? Todos ficam perdidos, inclusive o aprendente.
Portanto, para que haja uma escola verdadeiramente inclusiva é necessário primeiramente a capacitação do profissional, adequação do espaço escolar, sem que hajam barreiras arquitetônicas, conscientização do aluno "dito normal" que estuda na entidade, para que não aconteça o preconceito, o bulling com a chegada de uma pessoa diferente na escola.
talvez a partir de então se possa construir uma escola inclusiva de fato.